sábado, 7 de abril de 2012

dia do jornalista e a abertura do fantástico

diz o garcía márquez que "o jornalismo é uma paixão insaciável (...) quem não sofreu essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida, não pode imaginá-la... ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderia persistir numa profissão tão incompreensível e voraz, cuja obra termina depois de cada notícia, como se fora para sempre, mas que não concede um instante de paz enquanto não torna a começar, com mais ardor do que nunca, no minuto seguinte." concordo com ele. só quem sente na pele sabe a paixão que nos move. ganhamos pouco, trabalhamos muito, e não temos o privilégio de ir pra casa e desligar um botãozinho off. tipo: pronto, fim de expediente, bati o ponto e vazei. nada disso. estamos sempre ligados. jornalista trabalha até dormindo.
e hoje, dia do jornalista, descubro que assim como a profissão - desorganizada e plural - temos seis datas comemorativas. a saber: 24 de janeiro - dia do nosso padroeiro são francisco de sales (eu nem sabia que tínhamos um padroeiro. te prepara santo, porque agora só vai dar você nas minhas orações....); 29 de janeiro - coisa de calendário velho, seria uma homenagem ao jornalista e abolicionista josé do patrocínio (eita nomezinho sugestivo...patrocínio...chega soa 'bunito'); 16 de fevereiro - dia do repórter, que não é sinônimo de jornalista...07 de abril - ideia da associação brasileira de imprensa em homenagem a líbero badaró (médico e jornalista) que defendia a liberdade de imprensa e acabou fazendo d.pedro I pedir pra sair. 03 de maio é o dia da liberdade de imprensa, segundo a onu e 01 de junho tem o dia da imprensa. ufaaaaa ! 
eu queria a cada dia comemorativo ganhar 15% de reajuste salarial, ai sim. quero destacar que não me considero aquelas jornalistas workaholic, chatas, defensora de discursos liberais blá blá blá. sou normal, trabalho pra pagar as contas. mas amo o que faço. minha paixão pelo jornalismo começou vendo a abertura do fantástico, lá na cidade onde eu nasci, arroio grande. mas não era qualquer abertura, era a primeira do programa colorido.
 

3 anos e eu sabia, desde ali, que eu queria trabalhar naquele tubinho de imagens. na época, tudo era em preto e branco (nossos pais colocavam papel celofane colorido em frente a tv pra ficar colorida. e na antena que ficava em cima dela , vira e mexe tinha um bombril pendurado. era dureza). eu mexia tanto naquela tv que um dia ela caiu em cima de mim! meu pai falou: - não pode mexer ai, faz dodói. - ãhãn, respondi do alto dos meus 3 anos. a primeira coisa que fiz foi me pendurar nela (a rebelde dava sinais de vida ali mesmo, na tenra idade). e assim , meu caso com a tv continuou. 
na escola eu conheci o microfone. minha mãe era vice-diretora e eu me achava a última bolachinha do pacote. queria mexer no sistema de som e sempre dava um jeito de fazer a chamada das turmas (funcionava assim: todas as turmas faziam fila, tiravam distância - alguém lembra?- e depois eram chamadas na ordem 1ª a, 1ªb, 2ª...e seguia...) se tinha que cantar o hino, lá tava eu no microfone chamando pro hino. se tinha que ir pro pátio, lá tava eu de novo. quando tinha festival de música na escola era eu a apresentadora. e no auge dos meus 8 anos , estava apresentando um festival de dança confirmei pra mim mesma: eu vou ser repórter pra sempre. e assim foi. 
fiz jornalzinho no colégio, escrevia uma coluna de música (!!!!). fiz minha faculdade imaginando trabalhar numa revista (na época eu queria ser repórter de música). trabalhar na rádio era outro sonho (eu gravei milhões de programas meus de mim para mim mesma num aparelho de som com fita cassete) mas foi na televisão que me encontrei. comecei apresentando um programa de música (minha paixão maior, sempre) que se chamava canal arte.

 

uma época em que mtv era pra poucos, me diverti muito sendo apresentadora. mas não dava grana. 
fui fazer "frila" de rádio escuta. acabei ficando. gravei programa de rádio e recebi um convite da globo. e fui. de lá passei pela tv justiça e estou na record.
já ganhei prêmio, já produzi pro casseta e planeta, já fiz câmera escondida, já fui passear no projac a trabalho.
histórias não faltam. mas o mais importante de tudo é que mesmo reclamando horrores, mesmo me indignando, mesmo ligando o 'foda-se' de vez em quando, a verdade é que eu amo ser jornalista.
ainda sinto o friozinho na barriga típico dos focas. ainda tenho tesão. o dia que ele for embora, ai acaba o casamento. mas até lá devo estar bem velhinha, ganhando dinheiro com meus livros de contos eróticos hihihihi.
sei que a profissão gera repulsa em muita gente. somos megacobrados (nunca vi cobrarem tanto de um servidor público, de um médico nem de um gari) . sim, somos odiados, amados e poucas vezes idolatrados. uma coisa é certa, ajudamos, algumas vezes, a mudar o mundo , fizemos alguma coisa (um pouco) por ele (tá, lá vem a turma dos chatos perguntar se somos acima do bem e do mal blá blá blá...). só pra constar: me irrito com jornalista que se acha importante.
enfim, pra encerrar, hoje eu estava de plantão e descobri que era dia do jornalista. dia do jornalista??? e eu de plantão (olha a ironia do destino) e isso me fez lembrar a frase que li ontem (no livro 'a rainha do castelo de ar'): "(...) todos olharam para ela. - estive com o michael blomkvist várias vezes durante a investigação, e acho que ele é um sujeito legal, apesar de ser jornalista"... (PODE?) 


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